domingo, 16 de outubro de 2011

A DOUTRINA DA VOCAÇÃO

“Esta vocação eficaz é só da livre e especial graça de Deus e não provem de qualquer coisa prevista no homem; na vocação o homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a graça nela oferecida e comunicada.”[1]

Introdução: A vocação na vida cristã tende a ser dúplice, somos vocacionados, ou chamados eficazmente para a salvação por Cristo Jesus mediante sua graça. A mesma graça que se verificou salvatícia, aplica-se de forma específica a indivíduos que sendo membros do corpo de Cristo recebem uma vocação especial para participarem efetivamente da edificação do corpo de Cristo no uso de seus dons e ministérios.

O Deus que chama eficazmente para si aqueles a quem ele quer, também, eficazmente os capacita por sua graça, afim de que, uma vez iluminados pelo Espírito Santo e pelo mesmo Espírito dotados com dons para ministérios cumpram a vocação que receberam (conf. 1 Co 12.4-12; 28; comp. Ef 4.11; Rm 12.4-8). Esses indivíduos assim equipados, uma vez confirmados pela igreja participam da edificação do corpo de Cristo (At 12.1-3, comp. 1Tm 5.22). Grande é, porém, a responsabilidade daqueles que laboram na seara do Senhor, pois, trabalham em campo alheio e, o dono da seara e rígido e inflexível para acertar as contas com seus obreiros comissionados. Nos sinóticos[2] lemos sobre a parábola dos talentos ou, a sua semelhante, a parábola das minas. Aquele senhor, que representa o próprio Deus, foi generoso em distribuir seus talentos aos seus servos, “a cada segundo a sua capacidade”. O senhor da seara, no tempo determinado pediu contas aos seus comissionados para saber o que haviam feito cada um com seus talentos. Rigorosamente verificou o empenho de cada um. Aquele servo que recebera cinco granjeou mais cinco, foi elogiado e recompensado pelo senhor, de igual modo o que recebera dois, multiplicou por dois os talentos recebidos; foi também elogiado e recompensado, mas, o que recebera um talento, esse escondeu o que recebera, não produzindo qualquer lucro. Muito embora o homem tenha devolvido o que recebera, o senhor o repreendeu severamente e o condenou às trevas exteriores (conf., Mt 25.14-30; Lc 19.11-27). Entendemos claramente ser justo que o Senhor da seara cobre de seus obreiros empenho e labor para multiplicar aquilo que lhes foi colocado em mãos. Ali na parábola, contudo, trata-se de “talentos” ou “minas”, bens temporais ou dinheiro, mas, quem é chamado para um ministério no corpo de Cristo, trata com almas e uma alma “vale mais que o mundo inteiro” (Mt 8.36; 16.26;Lc 9.25).

Temo que muitos que são denominados ministros hoje na igreja ainda não atinaram com a responsabilidade ministerial. Há muitos que gostam de exercer a primazia; de portar o honorável título de pastor, bispo, missionário ou até mesmo, “apóstolo”, mas, deviam parar e refletir um pouco sobre o que é vocação ministerial e, quais as responsabilidades de um ministro, bem como, refletir sobre as implicações eternas da obra que estão realizando e, que lhes será pedido contas da incumbência que receberam (Hb 4.13; 13.7, comp. 1Pd 4.5).

Devemos apreciar biblicamente a teologia da vocação, há um texto que é considerado áureo para os teólogos da reforma, relativamente à doutrina da vocação; refiro-me ao texto do capítulo seis do profeta Isaías. Passaremos adiante verificando in loco os aspectos que envolvem a vocação ministerial baseados nesse texto. Observem-se no texto abaixo transcrito as palavras grifadas, pois abordaremos com destaque essas expressões para falar sobre a vocação.

1 No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. 2 Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. 3 E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. 4 As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. 5 Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos! 6 Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; 7 com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado. 8Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim. 9Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais. 10Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo. 11ntão, disse eu: até quando, Senhor? Ele respondeu: Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem habitantes, as casas fiquem sem moradores, e a terra seja de todo assolada, 12e o SENHOR afaste dela os homens, e no meio da terra seja grande o desamparo. 13 Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco.

1) A Crise: “No ano da morte”Há sempre um momento que marca a vocação. Todo chamado tem um ponto de partida, um momento decisivo, uma hora H. Na vida do profeta Isaías, foi num momento de dor, pois, sendo, aparentado de Uzias, Rei de Judá, sob cuja benesse vivia e, por quem nutria profundo amor, de repente, viu-se, diante da perda de seu benfeitor e amigo. Ele, naturalmente, naquela hora de dor, de “crise”, foi ao templo para chorar e, lamentar a sua perda. Estando ali no santuário, algo inaudito aconteceria e, que mudaria radicalmente a sua existência. Obviamente, o jovem[3] Isaías não sabia que aquele seria um dia decisivo em sua vida. Tal seria a sua experiência, que aquele dia ficaria na sua história e na história da Revelação como um dia impar. Assim como Isaías, todo vocacionado pode precisar o momento especial e marcante quanto, inequivocamente sentiu o chamado divino. Como observamos nas Escrituras, há tantos exemplos testemunhais; Jeremias, Ezequiel, Salomão, Paulo, etc. Geralmente, quem recebeu um chamado pode falar com nítida clareza e, descrever pormenorizadamente o momento de sua vocação. Vocação inclui crise. Caso não seja possível memorar tal experiência, é simples: A VOCAÇÃO AINDA NÃO OCORREU.

2) A visão: “vi o Senhor” A visão de Isaías não foi algo que aconteceu no âmbito natural, mas, sobrenatural. Partindo do ponto de vista de que aquele foi um momento de sublimação, entendemos que tudo se deu numa esfera mais elevada. Se acompanharmos o relato daqueles que foram chamados por Deus no passado, observaremos, principalmente nos profetas, que introduzem seus escritos, geralmente com o vocábulo “visão” (conf. Ez 1.1; Amós 1.1; Obadias 1.1; Miquéias, etc.). Ter uma visão de Deus, não significa necessariamente, que todo vocacionado tenha a necessidade de ter a mesma experiência de Isaías, no sentido literal da palavra visão. Uma visão vocacional acontece, antes de tudo no íntimo da pessoa chamada. Quando alguém é chamado à voz do Senhor lhe ecoa na alma e, lá no íntimo de seu ser sabe nitidamente, que não será mais o mesmo e, sabe também que não poderá retroceder diante do chamado. A visão tem um caráter tão nítido para a vocação, que Paulo, por três vezes relata a sua visão vocacional. Isso fazia parte do argumento de Paulo e, estava relacionado ao seu credenciamento divino (conf. At 9.3; 22.6; 26.13). A visão é imprescindível. Se não houve visão, NÃO HOUVE VOCAÇÃO.

3) Características distintivas da visão vocacional: Essa visão tem alguns valores nuances que estão enumerados no texto em apreço. Do caráter da visão depende também o caráter da postura de um ministro de Cristo. Vejamos como o próprio Isaías delineia a visão vocacional.

a. A visão distingue entre o vocador e vocacionado: “um alto e sublime trono” Essas expressões distinguem factualmente, que Aquele perante o qual se avista o profeta não é seu igual, não é de seu nível horizontal e humano. Ele está assentado sobre um trono, portanto, ‘é Soberano’, é Senhor. As expressões sinonímicas “alto” e “sublime” demonstram que Ele está muito acima das circunstâncias mundanas e, totalmente separado do contingente humano. Mas, quando se mostra ao profeta e lhe revela sua realeza pessoal; tange o finito, o temporal e mundano para demonstrar que se importa; que não esteja alheio; de que há algo a ser feito. Observe nas Escrituras, que jamais Deus se revelou a alguém sem que lhe incumbisse de alguma tarefa em seu Reino. Desde o início foi assim; aconteceu com Noé, com Abraão, com Moisés, etc. E, com toda a constelação de vocacionados ao longo da história da Revelação. Todo vocacionado deve ter a nítida consciência da sublimidade daquele que o chamou, sob pena de perder de vista a importância do chamado, pois, a importância do chamado, não se prende, primeiro à tarefa, mas, ao caráter daquele que o chamou e incumbiu.

b. Quem chama é o Santíssimo: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos” Todo vocacionado deve ter uma nítida visão da santidade de Deus. A repetição enfática no texto hebreu indica que “santíssimo” é o Deus que chama. Esse Deus santíssimo quer ser servido em santidade também. O caráter de Ente Santo de Deus afirma Sua pureza e retidão. Ele é incontaminado do mal existente no universo, muito embora, Ele mesmo possa usar o mal para seu propósito, de acordo com sua sabedoria. Ainda o caráter de Ente Santo de Deus indica que Ele é separado de toda a criação no sentido de ser incriado e perfeito em seu Ser, essência e obras. Esse Deus partilha seus planos com homens; homens esses, que uma que vez tenham visto Sua santidade devem buscar uma vida santa, também separada, não do mundo, mas, no mundo. Estar no mundo é uma condição física necessária para sermos instrumento de Deus. Ele desde os tempos mais remotos sempre exigiu vida santa (Lv 11.44,45).

c. A vocação estabelece crise: “ai de mim! Estou perdido!” – A santidade em Deus é inerente à sua própria essência, mas, no homem é uma busca constante e incansável, pois, lidamos com as misérias de nossa própria natureza corrompida. Não há em nós, naturalmente falando, qualquer propensão para o bem. É como diz Paulo em Romanos capítulo três, “não há justo, nem um se quer...” “...não há quem entenda...” “não há quem busque a Deus...”, não há quem faça o bem...” etc. A busca por uma vida agradável a Deus é um desafio constante. Essa busca pela santidade começa a partir do momento em que entendemos a nossa natureza; quando somos confrontados pela Santidade. Isaías enxergou seu estado miserável de pecado ao contemplar essa Santidade, então, disse: “estou perdido”. De fato estaríamos perdidos, não fora a maravilhosa graça de Deus. Mas, Deus não se revelou a ninguém no passado que Ele quisesse fulminar, mas, sim, que Ele quisesse usar. O temor de Isaías é compreensível, à luz da tradição de Êxodo 33.20, onde o próprio Deus adverte a Moisés.

d. O vocacionado é pecador: “sou homem de lábios impuros” – Todo o vocacionado deve entender a sua natureza toda pecaminosa. Tal entendimento é salutar, no sentido de que jamais se torne arrogante ou, considere-se superior ou, melhor, devido ao chamado divino. Paulo mesmo se intitulou “o principal dos pecadores” (1Tm 1.15,16).

e. O vocacionado é enviado a pecadores: “habito no meio de um povo de impuros lábios” – Também é preciso entender a natureza daqueles aos quais somos enviados. Eles não são diferentes de nós, nem mais, nobres, nem mais pecadores, mas, simplesmente, são eles pecadores tão carentes de Deus como qualquer outro vocacionado (Rm 3.23; comp. 5.12).

f. A visão é soberana: “meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!” – O profeta tinha acabado de assistir a morte de um rei humano, alguém que ela amava muito, mas, agora está perante o Rei do universo; alguém que deve amar, alguém que deve reverenciar e temer. Esse Rei é imortal, cheio de amor e santidade. Ele servira a um rei temporal e passageiro, agora, serviria pare sempre o Rei do reis. Entenderá que no servi-lo devê-lo-á plena submissão; incondicional obediência. O vocacionado não está a serviço de si mesmo, nem antes ao serviço dos homens, mas, serve a Deus, aquele que o chamou.

g. O Deus que chama purifica e santifica: “com a brasa tocou a minha boca tua...” “... iniquidade foi tirada” “... perdoado, o teu pecado...” – O problema crucial do servo humano é sua pecaminosidade. O problema do pecado é algo que só Deus pode resolver. A solução vem do altar, nesse caso o mediador foi um “serafim”, o elemento purificador foi uma brasa tirada de sobre o altar. Na presente dispensação, só o sangue de Jesus é suficiente para resolver o problema do pecado, por isso mesmo, todo vocacionado, tem antes de tudo que ser alguém salvo pela graça Deus, um remido em Cristo Jesus (Ef 1.7,8; comp. 1Jo 1.7).

h. A vocação é nítida e inequívoca: “ouvi a voz do Senhor...” “a quem enviarei e, quem há de ir por nós?” – A vocação parte de Deus, do Deus trino. Toda a trindade está empenhada na vocação. Deus chama, segundo a Sua presciência, Jesus redime com Seu sangue purificador, o Espírito Santo santifica com seu poder santificador. Assim, o vocacionado estará potencialmente preparado para atender à vocação soberana do Senhor (conf. 1Pd 1.2). O profeta, jamais, por um momento que seja, nutrirá dúvidas quanto ao seu chamado.

i. A resposta deve ser incontinente: “eis-me aqui, envia-me a mim.” – A resposta ao chamado deve ser incontinente, assim como são incontinentes os serafins ante o trono da graça. Quem é chamado não pode dizer não para Deus. Sua vocação é soberana, irresistível e intransferível. Exemplos como os de Jonas, e Paulo sobejam em demonstrar que Deus jamais aceitará um não como resposta. Todo vocacionado sabe disso por experiência própria. Tem que se dispor para Deus sem nenhuma reserva; sua vida já não lhe pertence mais, sua vontade cai subserviente à vontade soberana de Deus, por isso mesmo só pode dizer: “eis-me aqui, envia-me a mim”.

j. A vocação inclui missão: vai e dize a este povo – Não existe vocação sem missão. O Deus que chama também envia e, ao enviar, como vimos, equipa. Todo vocacionado sabe para o que foi chamado; conhece o caráter particular da sua vocação. Sabe o que tem que fazer e, deve estar pronto para desincumbir-se da missão. A missão de Isaías era árdua, ele não obteria sucesso diante daqueles a quem estava sendo enviado. Quando Deus nos chama não nos promete nenhuma facilidade, porém Ele promete estar conosco e se compromete em nos preparar convenientemente para que nos desincumbamos da missão que a vocação envolve (Mt 28.19-20; At 1.8). Os versos restantes demonstram que sucesso não é uma promessa inclusa na missão. Nenhum profeta jamais é chamado para ser “sucesso”, mas, para obedecer, incondicionalmente à vocação divina.

Conclusão: Observamos que o texto em apreço ainda possui outra teologia (a teologia do culto) paralela à teologia da vocação. Destacamos, contudo, nesse primeiro momento, a teologia da vocação devido ao caráter de urgência que nos imprime o Espírito. Atendendo ao clamor dessa urgência, visamos apreender primeiro a lição vocacional, contudo, num outro momento, pretendemos analisar também esse segundo aspecto do texto. Então, nessa abordagem primeira focamos como teologia principal do texto a vocacional, por considerar que a segunda teologia requer do vocacionado uma atitude que é só possível a alguém que foi vocacionado por Deus, ainda que tal vocação seja primária e não especificamente ministerial; se é que Deus jamais chamou a alguém sem lhe dar uma incumbência ainda que mínima em seu Reino.

Pr. Prof. Rafael Ribeiro ThM.

[1] Confissão de Fé de Westminster Capítulo X – Da vocação eficaz. [2] Mateus, Marcos e Lucas (evangelhos sinóticos). São assim denominados pela semelhança textual. [3] Segundo alguns comentaristas, tinha Isaías cerca de 20 anos por ocasião de sua vocação.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MANUSCRITO

Na antiguidade muito antes que a imprensa fosse criada, o homem buscou expressar-se verbalmente através da escrita. Os primeiros esforços se verificam através das pinturas rupestres encontradas em pedras, peças de barro ou cavernas. Já por volta de ano 3500 AC, surgiu a escrita cuneiforme na Mesopotâmia; forma que usava uma cunha de madeira ou metal na argila mole e, depois usando também tinta em artefatos de barro ou tecidos e mesmo o papiro. No antigo Egito mais ou menos na mesma época, começa a escrita hieroglífica, o hieroglifos era uma forma de criptograma onde se usavam gravuras e desenhos para expressar idéias, contar histórias narrar as crônicas dos faraós e dos feitos de uma civilização adiantadíssima. Foi mesmo no Egito que surgiu a primeira forma escrita que mais se aproximava da escrita alfabética. Essa escrita antiga surgida no Egito foi denominada de escrita hierática, misturava hieroglifos e formas aproximadas às consoantes; disso temos comprovação na escrita fenícia, que emprestou alguns símbolos hieráticos. Por fim surge a primeira escrita alfabética, por volta de 1700-1800 AC. Foram os fenícios, povo de origem semita, radicado ao norte da Palestina na fronteira com a Síria quem criaram a forma alfabética mais antiga. Os fenícios partiram da língua aramaica, falada em todo o mundo antigo e, simplificando o aramaico cujos vocábulos eram muito extensos criaram um idioma menos complexo e compacto. Esse idioma de raiz triliteral criado pelos fenícios, mais tarde recebeu o nome de hebraico, por que o povo hebreu o adotou como língua falada em sua nação, devido ao fato de que foi nesse idioma que se escreveu aquela que pode ser considerada a maior obra cunhada pela pena de um escritor; seja a Torah de Moisés. Também os demais livros do Antigo Testamento forma escritos, quase que em sua totalidade no idioma hebreu. Quando Moisés escreveu a Torah bem como quando o escreveram os demais escritores do Antigo Testamento, o papel não havia ainda sido inventado. No Egito usava-se o papiro. O papiro era confecciona através de um tipo de junco que cresce nas margens do Nilo por todo a sua extensão. Os egípcios cortavam o junco em forma de filetes punham para secar, depois o trançavam formando os rolos (meguillôth). A forma singular para a palavra é meguillah. Os escribas estendiam esse material sobre mesas de pedra estreitas e cumpridas e, usando uma pena molhada em tinta escreviam sobre ele. Mais tarde, por volta de 250 AC, os gregos, povo muito culto e que destacava-se nas letras e nas artes em geral, buscando um forma mais próximo de sua cultura, pois, até então, tinha que importar o papiro egípcio, desenvolveu o pergaminho, isso se deu na metrópole grega de Pérgamo, daí, pergaminho. O pergaminho confeccionado com couro de animais curtido, era mais resistente do que papiro. Os gregos partindo do hebraico desenvolveram a sua própria forma de escrita, o alfabeto grego. Em grego foram escritas as obras monumentais dos filósofos e poetas gregos. Platão, Heródoto, Aristóteles, etc. usaram o pergaminho para escrever. Com os pergaminhos, surgiram também os códices. Um códice usa o mesmo material da meguillah, contudo no códice o material era cortado em tiras quadráticas e encadernadas em forma livro, sobre as quais o escriba escrevia. A mais importante obra escrita em em grego coinêt ou, grego popular, sobre os pergaminhos em forma de rolos ou códices é o Novo Testamento. Também há textos do Antigo Testamento escritos em pergaminhos.

Rafael Ribeiro ThM.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

REFORMA, O CAMINHO DA RESTAURAÇÃO

INTRODUÇÃO

1. Na Idade Média a Igreja havia se desviado da Palavra e como resultado, muitas doutrinas estranhas foram incorporadas: A salvação pelas obras, a veneração de imagens, a intercessão dos santos, a mediação de Maria, o purgatório, a tradição, o celibato compulsório, e muitas outras.

2. Nesse tempo, Deus levantou Lutero e ele no dia 31 de outubro de 1517 fixou nas Portas da Igreja de Wittenberg as 95 teses contra das indulgências. Lutero demonstrou duas atitudes: Primeiro, a integridade ao texto. A justificação pela fé não pode curvar-se à venda de indulgências; segundo, a relevância cultural. Lutero expõe suas teses no lugar certo e na hora certa. Lutero fazia exegese do texto e exegese da cultura. Ele lia o texto e lia o povo. Ele era íntegro e também relevante. 3. O rei Ezequias também foi um reformador. A história de Judá tem um antes e um depois dele. Ninguém buscou a Deus como ele nem antes nem depois dele (2Rs 18.5). Foi a atitude desse líder que impediu a tragédia da invasão assíria em Jerusalém. Quando o povo é levado a ouvir a Deus, ele é poupado da chibata. Quem não escuta a voz da graça, precisa ouvir o estalido do chicote. A vida de Ezequias tem lições importantes para nos ensinar:

I. DISPOE-SE A ANDAR COM DEUS NUM TEMPO EM QUE OS DEMAIS ESTAVAM EM DECADÊNCIA ESPIRITUAL – (2Rs 18.9,10,12)1. Ezequias nos ensina que o homem não é produto do meio como queria John Locke – A sociedade de Israel e de Judá estava em total decadência, entregue a apostasia religiosa e à decadência moral. Mas, Ezequias se dispõe a andar com Deus e fazer aliança com ele. Você pode escolher ser diferente daqueles que vivem ao seu redor.2. Ezequias não tinha testemunho dos de fora – Foi durante o seu governo que o rei da Assíria levou cativo o reino do norte por causa de suas muitas transgressões. Enquanto os irmãos nortistas estavam vendidos ao pecado, ele estava buscando a Deus.3. Hoje também vivemos numa sociedade decadente – Os valores absolutos estão sendo tripudiados. A verdade está sendo escarnecida. A família está sendo bombardeada. O casamento ridicularizado. A honestidade está se tornando um valor em extinção. A pureza moral está desaparecendo. A piedade está sendo desprezada. Nesta semana (03/11/06), explodiu nos Estados Unidos mais um escândalo entre os evangélicos. O presidente da Associação Nacional dos Evangélicos, uma entidade que lidera 30 milhões de evangélicos, um pastor da Igreja Nova Vida, casado, pai de cinco filhos, assessor do presidente Bush e um dos maiores opositores da legalização do casamento gay, foi denunciado de estar envolvido num relacionamento homossexual com um garoto de programa. Embora negue a relação, já admitiu que fazia massagem e comprava drogas desse cidadão.

II. DISPOE-SE A ANDAR COM DEUS MESMO SEM EXEMPLO DENTRO DA SUA CASA – (2Rs 18.1)1. Ezequias não tinha testemunho dos de dentro – Seu pai, o rei Acaz, era um homem ímpio, idólatra, perverso, e assassino. Ele queimou seus próprios filhos em altares pagãos. Ele substituiu o altar da Casa de Deus pelo altar de um templo pagão. Ele misturou a fé com o paganismo. Ezequias não tinha um bom modelo dentro de casa. Seu pai era um monstro. Mas ele escolheu ser diferente. Ele rompeu com sua tradição familiar. Ele deixou os maus caminhos do seu pai. Ele não seguiu os passos do pai. 2. Nós não escolhemos nossa família, mas podemos escolher nossas atitudes e nosso rumo – Nossa família não é o que queremos, mas nós podemos escolher não andar no erro dos nossos pais. Ilustração: Os dois irmãos que tinham um pai bêbado. Um venceu na vida, o outro foi preso. Um repórter perguntou a ambos: Por que? A resposta foi a mesma.

III. DISPÕE-SE A LIDERAR SEU POVO NUMA REFORMA RELIGIOSA – (2Cr 29.2-5)1. Uma reforma de vidaEzequias fez o que era reto perante o Senhor (29.2). Ele fez aliança com Deus (29.10). Ele confiou no Senhor (2Rs 18.5). Em tempos de prova ele exortou o povo a pôr a sua confiança em Deus (32.7,8). Ele apegou-se a Deus como um homem piedoso e não deixou de segui-lo, guardando os mandamentos de Deus (2Rs 18.6). A Bíblia diz que nenhum dos reis de Judá confiou tanto no Senhor como ele (2Rs 18.5). 2. Uma reforma da Casa de Deus1) Quebrou os ídolos (2Rs 18.4) – Deus abomina a idolatria. Ele rompeu com o que estava errado dentro da Casa de Deus. Ele fez uma faxina dentro da Casa de Deus. Ele, como Neemias, jogou os móveis de Tobias para fora da Casa de Deus. Ezequias fez em pedaços a serpente de bronze que Moisés fizera (2Rs 18.4). Ele não promoveu no seu reino o misticismo religioso. Hoje, há muitas práticas estranhas dentro dos templos cristãos. O culto precisa ser bíblico senão será anátema. Deus não aceita fogo estranho. 2) Tirou toda imundícia da Casa de Deus (2Cr 29.5) – A Casa de Deus estava cheia de ídolos, de altares pagãos. Introduziram coisas estranhas ao culto. Práticas pagãs foram introduzidas. O culto tinha perdido sua pureza. O sincretismo religioso misturava paganismo com o culto a Deus. Isso era abominação para Deus. Isso levou o reino do norte ao cativeiro. O avivamento começa com a purificação (2Cr 7,14; Rm 12.1,2). Deus não habita em santuários feitos por mãos. O nosso corpo é o templo do Espírito Santo. Precisamos preparar este santuário para que Cristo habite plenamente nele (Ef 3.17).3) Abriu a Casa de Deus (2Cr 29.3) – Acaz havia fechado a Casa de Deus. Agora, Ezequias abre a Casa de Deus. Quando o culto santo ao Deus vivo está em baixa, a nação está em crise. Se o pecado é o opróbrio das nações, a nação que teme ao Senhor é feliz. A Casa de Deus deve ser lugar de encontro com Deus. A Casa de Deus precisa ser lugar de salvação e não de desvio. 4) Santificou os obreiros da Casa de Deus (2Cr 29.5) – Não apenas o templo precisa ser santificado, mas também os obreiros. Deus leva a serio sua obra. Deus está mais interessado em quem nós somos do que no que nós fazemos. Vida precede ministério. Deus não requer apenas ajuntamento, ele quer vida santa. Não basta apenas pisar nos átrios da Casa de Deus, é preciso ter vida santa.5) Restaurou os dízimos na Casa de Deus (2Cr 31.5,6,11,12) – Onde o coração se volta para Deus o povo traz com abundância dízimos e ofertas. O dízimo é um aferidor do coração. Ele mede a nossa temperatura espiritual. A reforma religiosa passa pela devolução dos dízimos. Disso depende o sustento da Casa de Deus. Deixar de devolver os dízimos é desamparar a Casa de Deus. Devemos trazer todos os dízimos para que haja mantimento na Casa de Deus. O dízimo é santo ao Senhor. Não podemos retê-lo, subtraí-lo nem administrá-lo.6) Celebrou a Páscoa com grande entusiasmo (2Cr 30.23,25,26,27) – Ele fez da Páscoa um encontro missiológico. Ele mandou mensageiros convidar os filhos do pai que não estavam em Jerusalém, os restantes das tribos do norte que estavam entregues ao seu infortúnio (2Cr 30.9,10). Alguns rejeitaram e escarneceram (2Cr 30.10b), porém, outros aceitaram o convite e vieram e foram salvos (2Cr 30.11,12). Nosso culto precisa sempre ter uma perspectiva missiológica. Deus é glorificado quando os filhos do Pai que estão longe se chegam e assim se unem a nós na glorificação do seu nome. Desse evento podemos aprender algumas lições:a) A Páscoa gira em torno do Cordeiro – O centro da Páscoa era o Cordeiro, assim como o centro do culto é Cristo. Jesus é o nosso Cordeiro pascal. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (1Co 5.7; Jo 1.29). Não há razão para nos reunirmos se Jesus não for o centro dessa reunião. Não somos um clube, uma associação. Somos a igreja de Deus que celebra adoração ao Cordeiro de Deus. b) A Páscoa fala da libertação do cativeiro = Salvação – Nós celebramos a festa da salvação. Este não é um encontro social apenas. Estamos aqui testemunhando o que Deus fez por nós em Cristo. Ele nos libertou. Ele nos tirou do cativeiro, da casa do valente, da potestade de Satanás, do império das trevas. Algo glorioso aconteceu conosco. Deus mudou a nossa sorte. Somos a comunidade daqueles que foram libertos pelo sangue do Cordeiro (Ex 12.13). Nossa libertação foi obra exclusiva da graça. Deus suspendeu o castigo que viu o sangue do Cordeiro.c) A Páscoa fala da necessidade de tirar o fermento = Santificação – A Páscoa é uma reunião de pessoas que se apartam do pecado (1Co 5.6-8). Os que conhecem a Deus se consagram a ele. Fomos eleitos para a santidade. Fomos salvos para sermos luz. Os que têm esta esperança se santificam como ele é santo. d) A Páscoa fala da reunião de todo o povo = Comunhão – Todos as famílias deviam vir. Homens, mulheres e crianças. Mas outros deviam ser convidados. Os que vieram das tribos do norte não tinham mais os ritos de purificação, então Ezequias ora por eles, sabendo que Deus vê o coração e diz a Bíblia que Deus ouviu a oração de Ezequias e sarou a alma do povo (30.18-20). Deus está mais interessado na motivação do coração do que em ritos. Ezequias era um homem sensível espiritualmente. Ele era um intercessor. Ele não aplaudiu o fracasso das tribos do Norte. Ele não os via como rivais. Ele tinha compaixão e aproveitou a oportunidade para convidá-los a vir participar com eles das bênçãos do Senhor. Precisamos ter a visão evangelizadora de Ezequias.e) A Páscoa fala da celebração efusiva = Adoração - O povo cantou, celebrou com alegria e ao final daquela semana, ainda permaneceram mais uma semana (2Cr 30.23-27). Eles transcenderam na sua alegria e no seu amor por Deus. O culto é uma festa. O culto é um testemunho às nações. É uma celebração daquilo que Deus fez por nós em Cristo. IV. DISPOE-SE A CONFIAR EM DEUS DIANTE DE CIRCUNSTÂNCIAS DESESPERADORAS – (2Rs 19.19)1. A primeira investida da Assíria rechaçada (2Rs 18.7) - A Assíria já havia invadido e tomado o Reino do Norte. Seus irmãos já haviam sucumbido ao poderio militar dessa potência mundial. Agora, esse mesmo império guerreiro, expansionista, truculento, e sanguinário cerca Jerusalém e exige rendição. Porém, Ezequias rebelou-se contra o rei da Assíria e não o serviu (2Rs 18.7).2. A segunda investida da Assíria, o acordo apressado (2Rs 18.13,14) – Na segunda ocasião o rei da Assíria invade todas as cidades fortificadas de Judá e Ezequias sucumbe ao seu poder e paga ao rei da Assíria pesados tributos, além de dar toda a prata da Casa de Deus e os tesouros da Casa do Rei, bem como, tirou o ouro das portas do templo e das ombreiras para dá-los a Senaqueribe (2Rs 18.15,16). 3. A terceira investida da Assíria, a confiança em Deus prevalece a) A ameaça do inimigo (2Rs 18.22,30,32b,35) – Rabsaqué afrontou a Ezequias, dizendo que a sua confiança em Deus não podia livrar sua cidade do poder do rei da Assíria.b) A promessa da Palavra de Deus (2Rs 19.6,7) – Deus diz para o seu povo não temer suas palavras e ameaças, pois vai fazê-lo voltar à sua terra e ser morto pelos seus próprios filhos. Ezequias encoraja o povo a confiar em Deus apesar das circunstâncias, pois aquele que está conosco é mais poderoso para livrar (2Cr 32.7,8).c) A oração por livramento (2Rs 19.14-19) – Ezequias adora e exalta a Deus e ora para que no livramento o nome de Deus seja glorificado e conhecido entre todos os reinos.d) A resposta da oração (2Rs 19.28,33,34) – Deus sai em defesa do seu povo e afasta o inimigo.e) O livramento de Deus (2Rs 19.35) – Deus envia um anjo e 185 mil soldados assírios são mortos. O rei volta para sua terra e é morto por seus próprios filhos.V. DISPOS-SE A SE HUMILHAR DIANTE DE DEUS E ORAR POR SUA PRÓPRIA CURA – (1Rs 20.1-5)1. Uma ordem urgente – (2Rs 20.1)Deus diz a Ezequias por intermédio de Isaías: Põe em ordem a tua casa, porque certamente morrerás e não viverás (Is 38.1). Sua vida está em ordem? Sua casa está em ordem? Você está preparado para morrer? Se não, certamente você não está preparado para viver.2. Uma oração fervorosa regada de lágrimas – (2Rs 20.2,3)Ezequias se humilhou diante de Deus. Ele exaltou seu coração diante de Deus: talvez pela sua riqueza. Talvez pelas suas conquistas. Mas, agora, ele se humilha e Deus ouve sua oração.3. Uma resposta imediata de Deus – (2Rs 20.4,5)Deus dá mais do que o rei pede. Dá cura para a doença e vitória contra o inimigo. Deus afasta a doença e afasta o adversário. Tanto a doença quanto o inimigo estavam sob o controle de Deus.4. Uma vitória extraordinária – (Is 38.20) Ezequias agora, toma a decisão de louvar a Deus na sua casa todos os dias da sua vida. Alguns estudiosos crêem que o Salmo 116 foi escrito por Ezequias. Outros crêem que o Salmo 126 foi escrito por ele depois do livramento do cerco de Senaqueribe. CONCLUSÃOEzequias foi um homem que fez uma reforma porque buscou a Deus, obedeceu a Deus, e confiou em Deus. Ele agarrou-se a Palavra e à oração. Ele preferiu ouvir o profeta de Deus, a atender às ameaças dos poderosos.

Rev. Hernandes Dias Lopes